segunda-feira, 11 de abril de 2011

ESTAI SEMPRE PRONTOS A DAR A RAZÃO DA VOSSA ESPERANÇA (1 Pedro 3,15)

Esperança
A cidade de Salvador é conhecida como cidade da alegria. Mas bem sabemos que o povo carrega silenciosamente as suas narrativas de clamor. Quando existe confiança e amizade, as pessoas partilham suas dores. Permitindo um pouco de espaço, logo se abrem os corações das pessoas sofridas. Elas se lembram da perda e fazem a memória do/a filho/a que foi assassinado/a. Será que realmente somos honestos/as e bastante corajosos/as a enfrentar o desafio da violência ao nosso redor? Será que realmente somos capazes de nos cuidar e alcançar um estado de bem-estar na nossa cidade. Às vezes, a tristeza bate e o desânimo vem. Mas deveríamos continuar na nossa busca da paz. Precisa-se acreditar na esperança que vive dentro e entre nós. Precisa-se crer na utopia e num futuro melhor.
Escutando algumas mulheres que sofreram a perda irreparável do/a próprio/a filho/a, percebe-se uma esperança em dias melhores. Essas mães esperam uma ação concreta, uma ação “pé no chão” que possa ajudá-las no cotidiano. Não algo isolado, mas algo que está em contínua sintonia com o povo sofrido.
Cruz caida no centro de Salvador
Sim, somos mulheres vitimadas, pois perdemos os nosso filhos. Mas também somos fortes e vivemos a nossa própria fé assumindo a luta pela justiça: “Com fé em Jesus, eu venço. Com fé em Nossa Senhora, com fé em Deus, eu venço. Vou pedir a Deus que me dá força”, “Peço que um dia com fé no Espírito Santo, esta mortandade de jovem, um dia Jesus vai ter misericórdia de cada um deles. Que eles trilhem no caminho do bem, não é isso?”. A fé é importante. Acolhemos todas as crenças. A dor da mãe que sofreu essa perda, é a mesma. Como nós a interpretamos e percebemos varia. Mas em tudo isso, não importa a pertença à denominação cristã (seja católica, seja assim chamado “crente”, seja pentecostal, seja pertencendo ao Candomblé, que é muito comum na cidade soteropolitana).
Nossa esperança frente ao sofrimento crescente dos justos, abraça toda dor e vai contra o esquecimento da verdade. Apreciamos muito o trabalho de construir história pois os seus frutos penetram na verdade do passado. A tarefa nossa e a tarefa de cada historiador é definida como uma luta contra as convenções, em busca de uma leitura do passado, em busca dos não ditos. O nosso apelo é que a história seja contada do ponto de vista dos oprimidos. Nossas histórias devem ser incluídas na história desta cidade. Mesmo se ninguém se interessa por elas, para nós são importantes! Em outras palavras: temos que sempre ir contra a corrente da história da assim chamada "cidade da alegria", baseando-nos nas verdadeiras falas dos injustificados. Lembrando-nos da dor conserva a história de uma forma perigosa, que não permite o silêncio. Neste tempo de quaresma falamos do sofrimento de Cristo que é memória libertadora. Ele não é só histórico, mas faz parte dos tempos de hoje, do ano 2011. Jesus Cristo, que sofreu a morte na cruz e ressuscitou dos mortos, une-se a nossa dor e nos faz crer na ressurreição. A memória é rocha fundamental na nossa recuperação!
Observação: colaboração P.C.

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